TARDE DE QUARTA-FEIRA
Naquele
fim de tarde, o Sol parecia uma grande laranja pendurada no céu. Acabou
sorrindo diante dessa idéia: era estranha, mas simpática.
Ainda
se repreendia por ter escolhido aquele caminho. Por acaso havia esquecido como
a Paulista fica congestionada? Agora, tudo que podia fazer era ter paciência.
Ligou
o rádio para descontrair, gostava de música. Colocou um CD e esperou o carro da
frente mover-se.
Começou
a lembrar dos acontecimentos do dia. Trabalhara muito, estava exausta. Por
causa de um acidente na região, o hospital ficara cheio, os médicos não tiveram
um minuto de sossego. Definitivamente levava uma vida difícil.
Seguia
o caminho para casa. Com certeza seus pais já estariam assistindo a novela e a
irmã, fazendo o dever de casa. Quando chegasse, tomaria um banho quente e
depois jantaria sozinha.
Provavelmente,
iria ler antes de dormir. E, ao invés de se confortar com esses pensamentos,
sentia um grande desânimo e um tédio maior ainda.
E
se não fosse para casa? E se, simplesmente, não fizesse o que todos esperavam
dela? Mas, se não chegasse, os pais ficariam preocupados. A irmã podia ter
dúvidas sobre a lição e precisaria de sua ajuda. Não havia nada que pudesse
fazer.
Olhou
distraída para a calçada e reparou em um cego que caminhava apenas com a ajuda
de uma bengala.
Como
se estivesse hipnotizada, não conseguia desviar os olhos daquele cego. Seu
olhar adquiriu um brilho diferente, já não ouvia a música que vinha do rádio.
De
repente, o cego tropeçou em algo e caiu. As pessoas passavam e não faziam nada
para ajudá-lo, ao contrário, pareciam ignorar sua presença. Por que ninguém o
levantava? Por que ninguém se manifestava?
Não
suportou mais aquela situação: saiu do carro e foi ajudar o Cego a se levantar.
Perguntou se estava machucado e devolveu-lhe a bengala.
Voltou
para o carro sentindo-se bem, leve. O trânsito agora se movimentava um pouco
mais. Pegou o celular e ligou para o namorado, estava indo para o apartamento
dele. Percebeu que ele estava surpreso, sorriu.
Ligou
para os pais e avisou que não ia dormir em casa. Os pais pareciam não entender, ela não
avisara que tinha plantão naquela noite. Ela disse que não tinha e desligou.
Gostou de sua decisão.
Já
estava escuro e ela pôde ver as estrelas e a Lua, apesar da camada de fumaça
que pairava no ar. Achou a Lua crescente mais linda do que nunca. Aquela seria
uma noite especial.
E
o Cego continuou caminhando até o ponto de ônibus, pediu ajuda para pegar um
ônibus que fosse para a Lapa.
Fabiana
São Paulo, 12/09/2005
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