quarta-feira, 13 de novembro de 2013


TARDE DE QUARTA-FEIRA

Naquele fim de tarde, o Sol parecia uma grande laranja pendurada no céu. Acabou sorrindo diante dessa idéia: era estranha, mas simpática.

Ainda se repreendia por ter escolhido aquele caminho. Por acaso havia esquecido como a Paulista fica congestionada? Agora, tudo que podia fazer era ter paciência.

Ligou o rádio para descontrair, gostava de música. Colocou um CD e esperou o carro da frente mover-se.

Começou a lembrar dos acontecimentos do dia. Trabalhara muito, estava exausta. Por causa de um acidente na região, o hospital ficara cheio, os médicos não tiveram um minuto de sossego. Definitivamente levava uma vida difícil.

Seguia o caminho para casa. Com certeza seus pais já estariam assistindo a novela e a irmã, fazendo o dever de casa. Quando chegasse, tomaria um banho quente e depois jantaria sozinha.

Provavelmente, iria ler antes de dormir. E, ao invés de se confortar com esses pensamentos, sentia um grande desânimo e um tédio maior ainda.

E se não fosse para casa? E se, simplesmente, não fizesse o que todos esperavam dela? Mas, se não chegasse, os pais ficariam preocupados. A irmã podia ter dúvidas sobre a lição e precisaria de sua ajuda. Não havia nada que pudesse fazer.

Olhou distraída para a calçada e reparou em um cego que caminhava apenas com a ajuda de uma bengala.

Como se estivesse hipnotizada, não conseguia desviar os olhos daquele cego. Seu olhar adquiriu um brilho diferente, já não ouvia a música que vinha do rádio.

De repente, o cego tropeçou em algo e caiu. As pessoas passavam e não faziam nada para ajudá-lo, ao contrário, pareciam ignorar sua presença. Por que ninguém o levantava? Por que ninguém se manifestava?

Não suportou mais aquela situação: saiu do carro e foi ajudar o Cego a se levantar. Perguntou se estava machucado e devolveu-lhe a bengala.

Voltou para o carro sentindo-se bem, leve. O trânsito agora se movimentava um pouco mais. Pegou o celular e ligou para o namorado, estava indo para o apartamento dele. Percebeu que ele estava surpreso, sorriu.

Ligou para os pais e avisou que não ia dormir em casa. Os pais pareciam não entender, ela não avisara que tinha plantão naquela noite. Ela disse que não tinha e desligou. Gostou de sua decisão.

Já estava escuro e ela pôde ver as estrelas e a Lua, apesar da camada de fumaça que pairava no ar. Achou a Lua crescente mais linda do que nunca. Aquela seria uma noite especial.

E o Cego continuou caminhando até o ponto de ônibus, pediu ajuda para pegar um ônibus que fosse para a Lapa.
Fabiana
São Paulo, 12/09/2005

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