terça-feira, 19 de novembro de 2013


HONESTIDADE

Trabalhando noite destas, fiquei observando uma criança. A menina devia ter 3 anos de idade, cabelo preso num rabo de cavalo e chupeta vermelha na mão.

Ela andava pelo corredor com uma das mãos na cintura, fazendo trejeitos estranhos com a boca, tentando piscar e mandando beijos. Parecia também tentar rebolar, mas seu pequeno trotar não permitia uma certeza nesse ponto.

Todos riam do jeito da criança, alguns acenavam, outros piscavam de volta e lhe mandavam beijos.

Achei o comportamento dela muito afetado, praticamente desfilando como uma miss, mas as crianças tem comportamentos estranhos às vezes.

Como eu a estava observando, a criança se aproximou, sorriu e mandou um beijo. Diante disso, achei que seria indelicado manter-me alheia ao caso, portanto resolvi interagir: sorri de volta e perguntei como ela se chamava. A partir daí, passamos a travar um diálogo, daqueles meio ensaiados com crianças: sua idade, se vai para a escolinha, se tem um irmãozinho... E todos os diminutivos apropriados nestes casos.

Quando já parecíamos amigas de longa data, enveredei por outro território. Comecei comentando que seu sapato era muito bonito, ao que ela imediatamente assumiu sua pose de miss e disse: “brigada”. Perguntei então onde ela havia aprendido a mandar beijos e, para minha surpresa, ela responde sem titubear: “Estou fazendo igual a mamãe quando vai ver os meninos lá na rua”. A mãe, uma jovem, aparentemente adolescente, até então calada e sentada em um banco próximo, levantou-se imediatamente e veio pegar a menina desculpando-se: “Meu Deus, quanta bobagem essa menina está falando!”. E sentou-se com a garotinha no colo, olhando fixamente para um ponto distante.

Olhei novamente para a mãe e não consegui conter uma risadinha. Não me entendam mal, não estou julgando a mãe. Apenas pensei em seu constrangimento. Tentei imaginar que tipo de conversa ela teria com sua filha em casa depois do acontecido. E acredito que ela tenha rezado para que eu não acreditasse na honestidade das crianças.

Fabiana

Jaguariúna, 05/10/2013.

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