sexta-feira, 15 de novembro de 2013


A OUTRA

Os dedos não paravam um instante sobre o teclado, respostas tinham que fluir com rapidez e o som do teclado enchia o cômodo silencioso.

Olhou para o relógio, talvez fosse melhor ir dormir. Foi até o quarto e viu a irmã que dormia, viu a própria cama vazia. Voltou ao computador.

Num susto, o pai lhe manda ir pra cama. De cara emburrada, entra no quarto e fecha a porta. Prepara-se para dormir: cabelo, cremes, limpeza. Olha para o espelho e gosta do que vê.

Ouve um som e vira-se para ver a irmã mover-se na cama. Novo silêncio.

Quando olhou novamente para o espelho, Luciana espantou-se, quem era aquela que a olhava de dentro do espelho? Não sabia quem era.

Diante do espelho não esboçava nenhum movimento, o tempo parecia ter congelado. E a outra continuava encarando Luciana.

Podia perceber o olhar envelhecido daquela jovem. Olheiras um pouco mais profundas, cara de poucos amigos, faltando algo em seu interior. O que faltava? Ainda não conseguia enxergar.

Quis falar com a outra, mas as palavras não saíam, mal movia os lábios. Sentiu a boca seca.

Uma angústia começou a crescer em seu interior, por que não era capaz de encontrar as respostas?

Teve um sobressalto, parecia que a imagem sorria-lhe, ela já sabia o porquê.

O que fazer para entender? Tocou o espelho e afastou-se de imediato: sentiu que a outra também a tocou.

Olharam-se nos olhos, um arrepio percorreu sua espinha.

Tocou em si mesma e pôde sentir a outra, confundiam-se, misturavam-se, quase se tornavam uma só.

Mesmo assim, não atingia as profundezas das duas almas, as mentes estavam afastadas.

Agora, sentia-se sufocar. Num rompante, correu até a mesa e ficou de costas para o espelho. No quarto ouvia-se apenas a respiração da irmã e o relógio.

Foi até o espelho e, de respiração suspensa, postou-se diante dele. Tudo que viu foi ela mesma.

Acenou, aproximou-se, esperou. A outra não voltou. Partira.

Terminou de preparar-se, deitou-se. Fez suas orações e apagou a luz.

O sono não veio logo, com os olhos abertos na escuridão ainda pensava na outra. Será que ela voltaria? Luciana tentou não pensar em nada, mas a imagem estava impressa em sua memória.

Finalmente adormeceu. Assim, não percebeu um brilho estranho no espelho, muito rápido e que não se repetiu.

A irmã abriu os olhos, pensou ter ouvido algo. Levantou-se sonolenta e acendeu a luz. Olhou para Luciana que dormia, olhou para o quarto. Não percebendo nada, apagou a luz e voltou a dormir.
Fabiana
São Paulo, 25/09/1997

Nenhum comentário:

Postar um comentário