A OUTRA
Os dedos não paravam um instante sobre o teclado, respostas tinham que
fluir com rapidez e o som do teclado enchia o cômodo silencioso.
Olhou para o relógio, talvez fosse melhor ir dormir. Foi até o quarto e
viu a irmã que dormia, viu a própria cama vazia. Voltou ao computador.
Num susto, o pai lhe manda ir pra cama. De cara emburrada, entra no
quarto e fecha a porta. Prepara-se para dormir: cabelo, cremes, limpeza. Olha
para o espelho e gosta do que vê.
Ouve um som e vira-se para ver a irmã mover-se na cama. Novo silêncio.
Quando olhou novamente para o espelho, Luciana espantou-se, quem era
aquela que a olhava de dentro do espelho? Não sabia quem era.
Diante do espelho não esboçava nenhum movimento, o tempo parecia ter
congelado. E a outra continuava encarando Luciana.
Podia perceber o olhar envelhecido daquela jovem. Olheiras um pouco mais
profundas, cara de poucos amigos, faltando algo em seu interior. O que faltava?
Ainda não conseguia enxergar.
Quis falar com a outra, mas as palavras não saíam, mal movia os lábios.
Sentiu a boca seca.
Uma angústia começou a crescer em seu interior, por que não era capaz de
encontrar as respostas?
Teve um sobressalto, parecia que a imagem sorria-lhe, ela já sabia o
porquê.
O que fazer para entender? Tocou o espelho e afastou-se de imediato:
sentiu que a outra também a tocou.
Olharam-se nos olhos, um arrepio percorreu sua espinha.
Tocou em si mesma e pôde sentir a outra, confundiam-se, misturavam-se,
quase se tornavam uma só.
Mesmo assim, não atingia as profundezas das duas almas, as mentes
estavam afastadas.
Agora, sentia-se sufocar. Num rompante, correu até a mesa e ficou de
costas para o espelho. No quarto ouvia-se apenas a respiração da irmã e o
relógio.
Foi até o espelho e, de respiração suspensa, postou-se diante dele. Tudo
que viu foi ela mesma.
Acenou, aproximou-se, esperou. A outra não voltou. Partira.
Terminou de preparar-se, deitou-se. Fez suas orações e apagou a luz.
O sono não veio logo, com os olhos abertos na escuridão ainda pensava na
outra. Será que ela voltaria? Luciana tentou não pensar em nada, mas a imagem
estava impressa em sua memória.
Finalmente adormeceu. Assim, não percebeu um brilho estranho no espelho,
muito rápido e que não se repetiu.
A irmã abriu os olhos, pensou ter ouvido algo. Levantou-se sonolenta e
acendeu a luz. Olhou para Luciana que dormia, olhou para o quarto. Não
percebendo nada, apagou a luz e voltou a dormir.
FabianaSão Paulo, 25/09/1997
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