sexta-feira, 15 de novembro de 2013


A ÁRVORE

Eu devia ter por volta de sete anos. Nesse tempo, eu vivia em um quintal onde os vizinhos mais próximos eram meus parentes.

Nesse mesmo local há um pé de jabuticaba (ele existe até hoje). Uma das minhas alegrias de infância era subir nesse pé, principalmente se fosse tempo de aproveitar a fruta.

Numa tarde quente, após o almoço, resolvi subir na jabuticabeira e pegar algumas frutas de sobremesa. O pé estava carregado e meu tio, que era um de meus vizinhos, havia podado a árvore há pouco tempo.

A subida foi fácil, como sempre. Estava acostumada. Fiquei uma boa meia hora lá em cima, dividindo as jabuticabas com os passarinhos, que também eram fãs das frutinhas. Um passatempo bem agradável.

Na hora de descer, resolvi fazer o trajeto de costas para a árvore, para poder pegar jabuticabas durante a descida. Não era meu jeito habitual de descer, eu sempre ia de frente para a árvore e, chegando próxima ao chão, eu pulava. Mas nesse dia, muda o método de descida pareceu uma boa idéia.

Fui descendo tranquilamente, mas para meu azar, não percebi que a barra de minha camiseta havia ficado presa num galho recém podado e continuei descendo. Ao chegar no último galho, pulei como de costume. E então se deu a catástrofe: minha camiseta ficou presa no galho e eu fiquei pendurada pela camiseta, com os braços meio para cima, presos pelas mangas.

Primeiro fiquei em estado de choque. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Ao recuperar a presença de espirito, tentei recuperar apoio para os pés, para poder subir e me soltar, mas o último galho havia ficado para trás e o tronco era escorregadio.

Em seguida, apelei para outro estratagema. Comecei a chamar pelas pessoas, minha mãe, minhas tias, meus primos. Mas ninguém me ouviu.

Depois disso chorei. E, depois ainda, me conformei e passei a esperar que alguém sentisse minha falta e procurasse por mim. Foi uma longa espera.

Por volta das 17h, um de meus tios chegava do trabalho e, naquele dia, não foi diferente. Fiquei tão contente que nem conseguia falar (um pouco pela felicidade e outra parte pela garganta seca, sem água há tanto tempo). Ele se aproximou e viu o que estava acontecendo, enquanto eu finalmente conseguia pedir a ele que me soltasse.

Mas, antes que eu pudesse pensar em sua atitude, ele começou a rir e saiu na direção contrária da árvore, chamando por minha mãe e por todos os meus parentes. Ele fez questão que todos me visse e, tenho certeza, se naquele tempo houvesse facebook ou qualquer outra rede social, ele teria colocado uma foto da situação.

Tentei manter a dignidade enquanto todos riam e ele me descia da jabuticabeira. Passe por todos de cabeça erguida e entrei em minha casa. Minha expressão deve ter mostrado algo de muito bom ou muito ruim porque ninguém nunca comentou o acontecido comigo. Nunca mais.

Foi uma experiência bem educativa, que me mostrou não importa se uma idéia lhe parece muito boa, ela pode dar errado. E, até hoje, desço dessa bendita árvore do modo convencional. Jabuticabas só no pé, nunca na descida.

Fabiana

Campinas, 12/11/2013

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