SEM
FREIOS
Quando eu tinha 11 anos, minha família e eu embarcamos
em uma de nossas viagens. Desta vez para visitar minha avó, em Minas Gerais.
O carro havia saído do conserto há pouco tempo. Era um
fiat 147 azul escuro pelo qual tínhamos um apreço grande: era o primeiro carro
da família.
Sempre achei esse trajeto muito bonito, com uma
paisagem arborizada e diferente. Principalmente quando passávamos por uma serra
a certa altura da Fernão Dias.
A viagem transcorreu como de costume até chegarmos ao
trecho da referida serra. Nesse ponto atingimos uma descida com curvas bem
fechadas.
No início da descida, há uma placa indicando curva
perigosa. Meu pai sempre foi cuidadoso ao dirigir e sempre podíamos sentir como
o carro diminuía a velocidade ao chegar neste trecho. Estranhamente, dessa vez,
não percebemos nada.
Minha mãe olhou para ele e perguntou: “esqueceu a
curva?”, ao que meu pai, pálido, respondeu: “não tem freios. Estou pisando, mas
não tem freios”.
Não sou capaz de descrever exatamente um momento como
esse. Uma mistura de descrença, desespero, medo... É muito complexo.
Meu pai teve de fazer uma escolha difícil: tentar
encarar a curva e a serra com a velocidade do carro aumentando ou jogar o carro
na mureta de ferro da estrada para tentar pará-lo. Ele escolheu a mureta.
Foi rápido. Um cantar de pneus, um impacto seco e
estávamos parados. Primeiro, ficamos parados por alguns minutos, todos em
choque. Depois, saímos todos do carro para avaliar a situação. Ninguém se
machucou. A roda dianteira do carro se foi.
Carros foram encostando na pista para saber se estávamos
bem. Enfim chegou a polícia rodoviária. Foi um processo lento até a chegada de
um guincho, boletim de ocorrência, avaliação física.
No final, fico com a frase do policial que viu o
carro, ouviu a história e olhou para nós, inteiros: “Não voltem para casa.
Terminem a viagem e visitem sua avó. Vocês merecem isso, vocês nasceram de
novo”. E assim foi.
Fabiana
Campinas, 11/12/2013.