quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SOBRE FILAS

Imagino que as filas já fazem parte do nosso subconsciente coletivo. Fico imaginando o primeiro homem que primeiro organizou uma pessoa atrás da outra para uma seleção qualquer, tipo, quem entra na caverna primeiro.
Desde aquele primeiro dia, essa organização pareceu boa e virou a primeira escolha.
Não gosto de ficar em filas, mas acho que em muitas situações ela é um mal necessário. Gostaria de pensar em uma solução melhor, mas nada me ocorreu até hoje.
Me espanta como algumas pessoas parecem gostar de filas, pessoas que parecem entrar em qualquer fila que veem, não importa para que é a fila.
Há quem goste de fazer amizades em uma fila. Está na fila a menos de 5 minutos e já sabe tudo da vida dos colegas de fila e já falou tudo de sua vida também.
Mas o que sempre me surpreende é a seguinte cena: estou em uma fila e ela demora séculos para se mover. Fico lá parada, observando a pessoa que chegou ao nosso objetivo final demorar um longo tempo para resolver o que precisa. E, enquanto espero, sempre fico pensando qual empecilho vou encontrar quando chegar a minha vez, imaginando quais podem ser os problemas para já pensar em soluções. E assim o tempo vai passando, até que me canso desse exercício imaginativo e simplesmente observo a fila caminhar em sua lentidão impassível.
Finalmente é chegada a minha vez. Me aproximo do balcão, digo porque vim. A pessoa do outro lado faz sua função e sou liberada. Feito. Menos de 5 minutos e o próximo da fila é chamado. E, inevitavelmente, sempre saio pensando o que raios as pessoas fizeram para demorar tanto naquele balcão! Sempre tenho a impressão de que as coisas acontecem assim. Pode ser que, na verdade, depois de tanto esperando, eu esteja delirando e tenha perdido a noção de tempo e por isso tenha essa sensação. Ou pode ser exatamente assim.
De qualquer forma, deixo claro que eu não gosto de filas e vou continuar tentando imaginar uma opção melhor. Além de imaginar porque as pessoas gostam tanto de filas.

Campinas, 25/09/2014.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

CEDO

Hoje acordei cedo. De livre e espontânea vontade, como há muito tempo não acontecia.
Quando se é criança isso acontece muito. Pelo menos na minha época (não, não sou tão velha assim), os melhores programas infantis e desenhos animados estavam na programação da manhã das emissoras. Logo, levantar cedo era obrigatório para não perder a Vovó Mafalda e o Glub Glub.
Hoje foi uma sensação semelhante. Tenho trabalhado muito nos últimos tempos, então cada segundo de sono tem sido muito precioso. Mas abri os olhos logo cedo e me sentia completamente descansada e bem disposta.
Levantei, troquei de roupa e fui até a padaria pegar um pão quentinho. Coisa que eu também não fazia há muito tempo. Até porque, pasmem, não há padarias perto de onde eu moro. Elas existem, mas ficam bem longe. Só para esclarecer, eu passei o feriado na casa dos meus pais, que tem uma padaria no final do quarteirão.
Como eu dizia, foi me levantar e me sentir tão bem, tão leve. Respirar o ar da manhã, mesmo estando um pouco frio, sem a sensação do peso das obrigações.
São esses momentos que fazem a diferença na rotina do dia-a-dia. 
Boa semana a todos. 
Fabiana

São Paulo, 9/07/2014

terça-feira, 8 de julho de 2014

LUTA

Numa noite qualquer de Janeiro, no meio de um desses calorões de verão, eu estava refletindo e suando, quando me deparei com uma cena interessante.
Primeiro preciso explicar que a porta e a janela estavam abertas para fins de ventilação, pois o pobre ventilador não estava conseguindo superar o calor intenso.
Perto da janela, pousaram 2 formigas com asas. Não sei se posso chamar de formigas com asas ou se há uma nomenclatura própria para isso, mas enfim, ficam sendo formigas com asas nesse momento. 
No início, pareciam não terem se percebido. No instante seguinte, começaram a degladiar entre si de forma ardorosa. Quer dizer, pelo menos me pareceu assim.
A luta estendeu-se por pouco tempo e uma delas tombou perdedora. Mas a vitoriosa não saiu ilesa: perdeu uma das asas.
Após a contenda, a sobrevivente tentou voar e, obviamente, não pode. Ficou girando no mesmo lugar, em torno de si mesma, sem conseguir se deslocar.
Pois é, entre mortos e feridos ninguém se salvou.
Não sei se há uma moral para essa história. Algo sobre lutas, guerras ou qualquer coisa do gênero. Deixo que cada um tire suas próprias conclusões.
Mas será que qualquer semelhança com qualquer caso humano é mera coincidência?

Jaguariúna, 06/07/2014
E a história continua... Hoje tem novidade sem falta ;)

domingo, 6 de abril de 2014

De volta a ativa...
Estou de volta!
Sim, fiquei ausente por muito tempo... Passei por momentos difíceis, trabalhei muito e o pouco tempo que me restava era usado para descansar.
Mas agora estou de volta e pronta para continuar a história.
Mãos a obra.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

SEM FREIOS
Quando eu tinha 11 anos, minha família e eu embarcamos em uma de nossas viagens. Desta vez para visitar minha avó, em Minas Gerais.
O carro havia saído do conserto há pouco tempo. Era um fiat 147 azul escuro pelo qual tínhamos um apreço grande: era o primeiro carro da família.
Sempre achei esse trajeto muito bonito, com uma paisagem arborizada e diferente. Principalmente quando passávamos por uma serra a certa altura da Fernão Dias.
A viagem transcorreu como de costume até chegarmos ao trecho da referida serra. Nesse ponto atingimos uma descida com curvas bem fechadas.
No início da descida, há uma placa indicando curva perigosa. Meu pai sempre foi cuidadoso ao dirigir e sempre podíamos sentir como o carro diminuía a velocidade ao chegar neste trecho. Estranhamente, dessa vez, não percebemos nada.
Minha mãe olhou para ele e perguntou: “esqueceu a curva?”, ao que meu pai, pálido, respondeu: “não tem freios. Estou pisando, mas não tem freios”.
Não sou capaz de descrever exatamente um momento como esse. Uma mistura de descrença, desespero, medo... É muito complexo.
Meu pai teve de fazer uma escolha difícil: tentar encarar a curva e a serra com a velocidade do carro aumentando ou jogar o carro na mureta de ferro da estrada para tentar pará-lo. Ele escolheu a mureta.
Foi rápido. Um cantar de pneus, um impacto seco e estávamos parados. Primeiro, ficamos parados por alguns minutos, todos em choque. Depois, saímos todos do carro para avaliar a situação. Ninguém se machucou. A roda dianteira do carro se foi.
Carros foram encostando na pista para saber se estávamos bem. Enfim chegou a polícia rodoviária. Foi um processo lento até a chegada de um guincho, boletim de ocorrência, avaliação física.
No final, fico com a frase do policial que viu o carro, ouviu a história e olhou para nós, inteiros: “Não voltem para casa. Terminem a viagem e visitem sua avó. Vocês merecem isso, vocês nasceram de novo”. E assim foi.
Fabiana

Campinas, 11/12/2013.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A TOCAIA
Essa história se passou há muito tempo atrás.
Havia um fazendeiro que possuía terras extensas e era conhecido como Coronel Nunes. Ele era casado com a jovem Rosena, moça de boa família da região. Juntos, ele tiveram 10 filhos.
Um dia, um fazendeiro de outras paragens, acabou comprando as terras vizinhas ao do Coronel Nunes e, a partir, a guerra começou.
Aparentemente, havia uma discrepância na escritura das terras, fazendo com que fosse dúbia a região da divisória. Com isso, eles estavam sempre brigando sobre onde deveria passar a cerca que separava as posses de cada um. Claro, cada um empurrando a cerca de forma a aumentar suas terras.
Essa luta se estendeu por muito tempo, sem nunca um vislumbre de acordo. Então, o outro fazendeiro resolver tomar uma medida mais drástica: tramou o assassinato do Coronel Nunes.
Mas o Coronel tinha aliados, e acabou informado da conspiração e partiu para as terras de um conhecido, para planejar o que fazer a seguir.
Inconformado, o inimigo tramou um plano ainda funesto. Para atrair o coronel de volta, atacou sua família.
Pagou uma velha escrava forra para dar fim a Rosena, que a visitava com frequência. Atraída pelo dinheiro, a velha envenenou os biscoitos que ofereceu a jovem, que morreu algumas horas depois. A velha acabou não suportando o remorso pelo que fez e suicidou-se no dia seguinte.
Com isso, as crianças ficaram sozinhas e o Coronel Nunes teve de voltar. Vinha a cavalo sem saber o que o aguardava. Uma tocaia numa curva da estrada e, com um tiro, chegava ao fim sua jornada.
Houve uma grande comoção na região e as pessoas se revoltaram contra o fazendeiro inimigo, que teve de fugir com sua família, abandonando suas terras, para não acabar preso ou morto.
Minha avó não sabia mais detalhes da história. Ela e seus irmãos foram espalhados entre parentes, madrinhas e conhecidos e foram criados distantes. Ela nunca soube a origem de seus pais, de onde eles haviam vindo.
Hoje, ao passar pela região, é possível ver uma grande extensão de terra abandonada, coberta de capim alto. E, olhando com cuidado, vê-se o que restou de uma cerca velha, toda corroída, esquecida no tempo.
Fabiana

Campinas, 11/12/2013.